O natal mais feliz da minha vida

“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo.” — Apocalipse 3:20

    O Natal mais feliz da minha vida não aconteceu quando a casa estava cheia, nem quando a mesa era farta, nem quando o riso era fácil e as fotografias pareciam prometer eternidade. Ele aconteceu no dia em que a comemoração deixou de ser data e se tornou encontro, quando o nascimento de Cristo deixou de ser memória litúrgica e se fez realidade silenciosa dentro de mim. Não houve anjos cantando no teto da sala nem luzes piscando para anunciar o momento, houve apenas um coração cansado, finalmente rendido, abrindo espaço para um Deus que não invade, apenas entra quando é convidado. E naquele dia eu entendi, com uma consciência renovada, que o Natal não é apenas Deus chegando ao mundo, é Deus encontrando morada no peito humano.

    Eu percebi que durante anos celebrei um Cristo distante, nascido em Belém, deitado em manjedouras que nunca foram minhas, enquanto mantinha o coração trancado, ornamentado por fora, mas vazio por dentro. Foi quando o Verbo se fez carne em mim que tudo mudou, não de forma ruidosa, mas profunda, como quem troca o eixo da existência sem precisar anunciar. O Natal mais feliz da minha vida não apagou minhas dores, não consertou o passado, não eliminou as perdas, mas deu sentido a cada uma delas. A alegria não veio como euforia, veio como descanso, como quem finalmente entende que não precisa mais sustentar o mundo sozinho.

    Há uma tristeza doce nesse Natal, porque ele nasce do reconhecimento de quanto tempo vivi sem perceber que Deus já estava disposto a habitar, esperando apenas que eu deixasse de ser anfitrião de mim mesmo. Quando Jesus nasceu no meu coração, o mundo continuou imperfeito, as pessoas continuaram falhas, e eu continuei sendo quem sou — pecador em constante necessidade de redenção —, mas tudo passou a ser atravessado por uma esperança que não depende de circunstâncias. Foi ali que compreendi que a verdadeira manjedoura é o lugar onde a gente admite fraqueza, onde o orgulho se curva e o controle cai no chão.

    O Natal mais feliz da minha vida não foi o mais bonito aos olhos, foi o mais honesto. Não teve excessos, teve verdade. Não teve promessas grandiosas, teve realidade viva. Cristo não veio me oferecer um roteiro sem dor, veio caminhar comigo dentro dela. E essa é a felicidade estranha do Natal real: saber que Deus não ficou do lado de fora da minha história, mas escolheu habitá-la, mesmo com todos os seus escombros. Ele não nasceu para me dar uma vida perfeita; nasceu para me dar a plenitude do Seu Espírito, enquanto caminho com os pés empoeirados neste mundo.

    Desde então, todo Natal carrega esse festejo silencioso no solo renovado da minha alma. As luzes acendem, as músicas tocam, as pessoas se reúnem, mas dentro de mim há um presépio invisível, onde Deus continua pequeno o suficiente para caber no coração, e grande o bastante para sustentá-lo. O Natal mais feliz da minha vida foi quando percebi que não era mais eu quem vivia sozinho, mas Cristo vivendo em mim como esperança da glória, e isso, mesmo envolto em melancolia, foi a alegria mais profunda que já experimentei.

    Que nos Natais que me restam eu viva por Aquele que passou a viver em mim.

 

Franklin

Comentários

  1. Prezado Franklin,
    Seu relato toca num ponto essencial do Natal que muitas vezes se perde no ruído das celebrações externas: o encontro silencioso, íntimo e transformador. Há uma beleza profunda nessa experiência de abrir o coração — não como quem oferece algo, mas como quem finalmente se permite acolher.
    Que esse Natal vivido “por dentro” continue reverberando em cada dia, renovando a esperança, o sentido e a confiança de que Deus se manifesta justamente na simplicidade e na escuta sincera.
    Obrigado por compartilhar uma vivência tão humana e espiritual ao mesmo tempo.
    Feliz Natal! E que a paz que nasce desse encontro interior siga iluminando seus caminhos e palavras. 🎄✨

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