O culto do Sol Invicto e a convenção do dia do nascimento de Jesus de Nazaré

 



Há 1748 anos, mais precisamente em 25 de dezembro do ano de 274 da era comum, um templo ao Sol Invicto era dedicado em Roma pelo Imperador Aureliano. Tratava-se de uma divindade oficial do Império Romano e, posteriormente, um patrono de soldados. 


Embora não fosse oficialmente identificado com o deus Mitra, o Sol de Aureliano tem muitas características próprias do mitraísmo, incluindo a representação iconográfica de um personagem divino ainda imberbe. E o culto do Sol Invicto continuou a ser base do paganismo oficial até à adesão do Império ao cristianismo, sendo que, antes da sua conversão, o jovem imperador Constantino tinha o Sol Invicto como a sua cunhagem oficial. 


Como se sabe, a escolha de 25 de dezembro para o nascimento de Jesus foi uma convenção, pois o dia exato de seu nascimento é desconhecido. 


Indaga-se se isso teria sido alguma estratégia da Igreja para assimilar as pessoas que seguiam o paganismo? Suponho que talvez possa ser. Mas creio que se trate de algo ideologicamente definido no início do século VI pelo monge Dionísio, o Exíguo. Pois, na época do denominado ano 284 da então "Era Diocleciana", Exíguo não queria usar um calendário cujo nome se referia a um tirano e perseguidor de cristãos de modo que resolveu datar os eventos a partir do suposto nascimento de Jesus.


De qualquer modo, as antigas crenças consideradas pagãs, com todas as modificações que passaram antes mesmo do advento do cristianismo, levam-nos às significações feitas com base no Solstício de Inverno, celebrado entre 20 e 25 de dezembro no Hemisfério Norte. Pois corresponde ao momento em que a luz do sol incide com menor força no hemisfério em questão, marcando o pico do inverno com o dia mais curto e a noite mais longa.


Numa época de maior ligação do homem com os eventos da natureza, principalmente pela sua dependência direta da agricultura, o Solstício de Inverno ganhava grande importância para diversas culturas antigas, que a associavam simbolicamente ao nascimento e ao renascimento. Algo relacionado à roda da vida e sua continuidade.


Dentro dessa visão, podemos compreender que o nascimento de Jesus se tornou o marco de uma nova era iniciada num momento de grande opressão dos romanos sobre o povo judeu e parte da humanidade. E, numa época de obscuridade, desamor, ódio e incompreensão, sua mensagem veio iluminar corações.


Embora dentro do cristianismo haja muitos críticos do sincretismo, procuro apreciar tudo isso já que toda religião surge tomando de empréstimo os costumes de uma cultura dando novos direcionamentos. Logo, os cristão de hoje não devem demonizar ou rejeitar essas convenções de muitos séculos atrás, mas sim entendê-las melhor com a devida reverência aos povos antigos.


Feliz Natal a todos e todas!


OBS: Disco de prata romano do século III d.C., encontrado em Pessino, atual Turquia e exposto no museu britânico.

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