JESUS, O CORDEIRINHO MUDO.


Existem várias tradições sobre Jesus incrustadas no Novo Testamento. O Jesus que surge da leitura dos Evangelhos, das cartas paulinas, das cartas de Pedro e principalmente do Apocalipse é multifocal - ou seja - foi visto por mais de um foco. Isso pode significar que Jesus foi tão extraordinariamente grande em sua influência, palavras e atos, que um só foco não poderia dizer tudo dele.

A igreja cristã sempre privilegiou a figura de Jesus como um cordeirinho manso, humilde, que foi para o abate sacrificial sem abrir a boca para reclamar pois aceitava de bom grado a vontade do Pai de que ele fosse o derradeiro cordeiro do sacrifício. Mas não é esse Jesus que surge de muitas passagens dos Evangelhos. Onde está o cordeirinho manso quando Jesus exaltado diz: "Não vim trazer paz à Terra e sim espada"?

A mensagem de Jesus de tão provocativa foi capaz de desagradar tanto aos judeus quanto aos romanos. Até mesmo seus discípulos muitas vezes não faziam ideia do que Jesus estava falando..."Pedro, quantas espadas temos?" peguntou Jesus no momento derradeiro de sua prisão; Pedro responde "duas" e Jesus replica: "basta".

Como assim duas espadas bastariam? Bastariam para quê? Ele estava dizendo que "chega de usar as espadas" ou estava dizendo que duas espadas bastariam para resolver o que ele tinha em mente? 

Os principais dos sacerdotes por mais de uma vez tentaram matá-lo mas ele fugiu, o Filho do Homem era bom de pernas.  

Por outro lado, quando decidiu deixar-se prender (pensava ele que duas espadas bastariam...?), os romanos aplicam-lhe a pena capital para o crime de sedição: morte na cruz ao lado não de "dois ladrões" como o texto bíblico veio a dizer, e sim, ao lado de dois revolucionários guerrilheiros que lutavam contra o Império Romano. Roma já tinha crucificado 3 mil deles.
A morte de Jesus não foi a morte de um cordeiro, foi a morte de um revolucionário.

O desespero na cruz ao gritar "Pai, porque me desamparaste" teria sido o grito de quem acreditou que duas espadas bastariam?


Eduardo Medeiros

Comentários

  1. Boa tarde, Eduardo!

    Penso que a ideia de Jesus como um cordeiro mudo tem mais a ver com a Igreja dos tempos atuais do que em séculos anteriores quando se pregava muito acerca de um Cristo que viria julgar e punir os injustos. Tempos em que guerras religiosas ainda eram aceitas e praticadas.

    Em minha análise, não me parece que Jesus tenha incentivado o uso das espadas, mas justamente combatido essa ideia. Tanto é que um discípulo (Pedro?) foi repreendido por haver usado a força contra o soldado do sumo sacerdote decepando-lhe a orelha, tendo dito Jesus que "(...) todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão". (Mateus 26:52)

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