Politeísmo cristão




Por Donizete Vieira
(Do Facebook)

Ário foi um grande teólogo. Ele foi o pivô de uma crise teológica que se instalou na igreja cristã no quarto século, provocando inclusive a necessidade de um concílio para saná-la. O objeto central da discussão: A controversa doutrina da Trindade, cuja essência é a ideia de um único Deus com três identidades, cada qual com sua própria descrição, e a suposta natureza divina de Jesus. Doutrina articulada por Atanásio, que convenceu a maioria dos seus colegas que Jesus Cristo era Deus, enquanto Ário, por sua vez, afirmava que Jesus foi criado em algum momento.

O Concílio, apesar das divergências, visto que pelo menos vinte e oito, de um total de trezentos e dezoito bispos eram arianos, conseguiu deliberar e reconhecer essa sofisticada e intricada construção teológica, a Trindade. No entanto não se esforçaram o suficiente para formular uma defesa convincente contra a acusação de que trinitarismo era politeísmo. Já que, até hoje, tanto islâmicos como judeus, cônscios de que a sublime ambição da trindade é reconverter o politeísmo em monoteísmo, sugerem que ele só é viável se o Espírito Santo for transformado em vácuo e a forte personalidade de Javé for ignorada. Proposta desconsiderada pelos cristãos.

Mas qual é o temor da teologia cristã em renunciar a trindade? Ora, se afirmar que somente Jesus é Deus, isso faz dele um usurpador assim como Zeus usurpou o trono de Cronos, seu pai. Se deliberar que somente javé é Deus, tal proposta destrói todo um sistema salvífico que tem Jesus como figura central. A única saída, portanto, é fazer manutenção de uma doutrina ininteligível, inexplicável. Misteriosa.

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