Manter-se sábio diante do "vinho"



"Disse comigo mesmo: vamos! Eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade; mas também isso era vaidade. Do riso disse: é loucura; e da alegria: de que serve? Resolvi no meu coração dar-me ao vinho, regendo-me, contudo, pela sabedoria, e entregar-me à loucura, até ver o que melhor seria que fizessem os filhos dos homens debaixo do céu, durante os poucos dias da sua vida." (Eclesiastes 2:1-3; ARA)

Entre o primeiro e o terceiro capítulos do livro bíblico de Eclesiastes, há várias partes que tratam sobre o trabalho e a sabedoria com foco na ideia de que, apesar da satisfação que encontramos em nos realizar nesta vida, qualquer ganho é cancelado pelo evento morte. Assim, nos onze primeiros versos do capítulo 2, o autor fala da vaidade das possessões e usa a metáfora do vinho.

Na história de Israel, o vinho sempre teve reconhecida a sua importância sócio-cultural. Embora a Bíblia contenha advertências diversas sobre o mal da embriaguez, jamais as Sagradas Escrituras censuraram as pessoas pela ingestão da bebida alcoólica. Por isso, muitas festas típicas do povo judeu sempre foram regadas a vinho assim como os casamentos. Aliás, na cerimônia celebrada pelo rabino, é costume oferecer dois cálices aos nubentes sobre os quais são recitadas as sete bênçãos (Nessuin Shevah Brachot) que simbolizam os sete dias da criação do mundo, a transformação da matéria para formar o ser humano, assim como a criação da mulher, que assegura a continuidade da espécie. 

Tal como no uso do vinho, há que se ter a devida cautela ou moderação diante das alegrias da vida. Ou seja, o que Salomão está dizendo na passagem citada é que, na experimentação das coisas prazerosas, não se pode negligenciar a orientação protetora da sabedoria, sendo fundamental mantermos a consciência de que as realizações terrenas não são de fato satisfatórias por razões de transitoriedade.

Acredito que manter esse entendimento, em nada prejudica o aproveitamento do que é bom. Pelo contrário, permite que possamos degustar melhor o sabor das coisas. Pois, da mesma maneira que um homem embriagado já não distingue mais as características de uma bebida fina, perdemos a boa percepção dos alegres momentos quando nos deixamos dominar pela matéria. Isto porque, neste caso, tornamo-nos escravos das riquezas e dos prazeres, os quais, não passam de "vento", segundo a linguagem metafórica do livro.

Ainda que a sabedoria e a insensatez sejam canceladas pela morte, melhor é viver como sábio do que permanecendo um estulto. Afinal, este ignora a "vaidade" das coisas enquanto o homem consciente consegue ser mais feliz sabendo quando se corre atrás do que é passageiro e aplicável tão somente a uma vida terrena.

Tenham todos uma ótima semana! 


OBS: Créditos autorais da imagem acima atribuídos a André Karwath, conforme consta no acervo virtual da Wikipédia em https://pt.wikipedia.org/wiki/Vinho#/media/File:Red_Wine_Glass.jpg

Comentários

  1. Claro é que em Eclesiastes, Salomáo evidencia as vaidades do homem que até em certos momentos sáo pecados diante do Deus Criador. Deus náo é contra vivermos segundo nossas vontades carnais, desde que náo conflitam com Seus Mandamentos de Tua Lei. Deus nos diz que os bêbados náo
    herdaráo o Reino. Entáo vamos seguir a Vontade de Deus em nossa vida para no minimo justificar a nossa salvaçáo espiritual...http://misericordiadosenhor.blogspot.com

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    1. Boa tarde, Renato.

      Primeiramente agradeço sua visita a este blogue.

      Embora tanto no meu artigo quanto no texto de Eclesiastes o vinho seja empregado como uma figura metafórica (positiva) em relação às coisas boas da vida, tal como os judeus simbolizam no casamento deles, é certo que a embriaguez nunca faz bem ao homem. Aliás, muitos fazem bem em se abster de qualquer bebida que contenha álcool, mesmo sendo de pouca graduação como as coisas fermentadas. Ainda que uns cardiologistas defendam o vinho para a saúde de quem seja cardíaco, a experiência mostra que abster-se do álcool de um modo genérico faz bem para a maioria das pessoas principalmente por causa dos comportamentos.

      Vale lembrar que o álcool seria umas das poucas restrições ou abstinências que a Bíblia permite já que o ascetismo não seria, a meu ver, uma recomendação baseada nas Escrituras.

      Devido aos conflitos existentes na nossa sociedade, acho até que a publicidade dos produtos alcoólicos deveria ser mais restrita com a imposição da contrapropaganda tal como ocorre nas vendas de cigarro pelo país.

      Abraços.

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