Quando Deus nos abençoa por mãos estranhas




Em minha leitura sequencial do livro de Isaías, cheguei hoje aos sete primeiros versos do capítulo 45, quando o autor fala do rei Ciro da Pérsia como sendo o novo libertador do povo israelita. 

Possivelmente o profeta deve ter chocado os seus ouvintes quando se referiu a um rei estrangeiro como sendo um "pastor" de Deus (44:28) e mais ainda chamando-o em seguida de "ungido" (45:1). Isto porque o termo hebraico nas Escrituras que traduzimos como "ungido" não se costumava usar em qualquer outro lugar a não ser em relação a Israel. Para conhecimento do leitor, informo que a unção era derramada sobre os sacerdotes e os monarcas do próprio povo, a exemplo do que fizera Samuel com Saul e Davi, ou quanto a Salomão por Zadoque e Natã (ver referências bíblicas em Ex 28:41; 29:4-9; Lv 4:3,5,16 sobre os sacerdotes e 1Sm 2:10; 9:16: 10:1; 1Rs 1:34 acerca dos reis). Ocasionalmente, talvez profetas passassem por esse ritual como fizera Elias com o seu sucessor Eliseu (1Rs 19:16).

"(...) A palavra hebraica traduzida em português por 'ungido' tornou-se um termo técnico para indicar os ungidos do Senhor, geralmente com conotações régias. Esse título é, normalmente, traduzido por 'messias'. A palavra grega para 'ungido' é Christos (em português, Cristo, Mt 1:17)" - Comentários teológicos da Bíblia de Estudo de Genebra a 1Rs 1:34, 2ª ed., SBB, págs. 390 e 391)

Fazendo um mergulho na História, saberemos que, no século VI a.e.c, os judeus foram invadidos e levados cativos pelo exército babilônico. Esse exílio durou 70 anos e significou um período de muitas humilhações e opressões para o povo israelita como se lê abundantemente na literatura dos profetas referente à época. Aliás, o próprio Salmo 137 expõe isso de maneira bem clara ao iniciar em seu primeiro verso com estas palavras: "Junto aos rios da Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião".

Diferentemente do Êxodo egípcio, quando o Mar Vermelho teria milagrosamente se aberto e Israel foi guiado com prodígios no deserto árabe por intermédio de Moisés, eis que o livramento da Babilônia veio através de um rei estrangeiro. Ciro II teria sido um governante que, segundo o texto sagrado, nem a Deus conhecia (Is 45:4) e ainda assim foi um instrumento divino para abençoar a esmagada nação israelita tornando-se um tipo de messias para aquela geração desesperada.

O aprendizado que tiro dessa passagem bíblica em comento é que muitas soluções em nossas vidas podem vir de onde menos imaginamos ou aguardamos. Pessoas de outras culturas, religiões diferentes e de estilos de vida que não são o nosso muitas vezes surgem em nosso caminho para nos servir de auxílio nas mais diversas circunstâncias. Por exemplo, o cristão pode vir a receber um excelente emprego de algum patrão homossexual seguidor de outro credo (ou ateu) e ainda ser melhor tratado do que por um chefe que se diz "irmão". Outra situação que deve ser considerada é que a cura divina pode chegar até nós por meio da ciência, seja pelos médicos ou até pelo conhecimento empírico baseado nas tradicionais experiências de povos tidos como "pagãos" (discordo de quando alguém diz ser a acupuntura ou a homeopatia "coisas do diabo").

A leitura do texto de Isaías que estudei hoje nos mostra a superioridade do Criador bendito sobre tudo o que há no Universo. A fé monoteísta de que Deus é Um impede que se faça de qualquer outra criatura, mesmo do diabo, um outro ser divino. Por isso, a atitude sensata do cristão deve ser a colocação de todas as coisas debaixo do soberano propósito e governo do Senhor, livre de qualquer polarização que nossa mente faz:

"Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas." (Is 45:6-7)

Que possamos reconhecer o agir de Deus em nossas vidas e aceitarmos as soluções que o Rei dos reis coloca à nossa disposição!

Uma ótima quinta-feira a todos!


OBS: A ilustração acima refere-se a uma iluminura feita pelo pintor francês Jean Fouquet (1420 — 1481), mostrando Ciro II e os hebreus. Extraí do acervo virtual da Wikipédia em https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciro_II#/media/File:Cyrus_II_le_Grand_et_les_H%C3%A9breux.jpg

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