Por Hermes C. Fernandes (*)
A encenação da crucificação de Jesus em
plena parada gay causou muito mal-estar entre cristãos de diversas
matizes. Uns consideraram blasfêmia, outros, apenas deboche, mas a
maioria entendeu como uma provocação aberta aos cristãos.
Particularmente, não me senti nem um pouco
ofendido ao ver uma ativista gay pregada numa cruz. Afinal, Jesus não
morreu somente por héteros. Na cruz, Ele Se identificou com os
excluídos, os oprimidos, os marginalizados, e ao fazê-lo, assumiu em Si
todos os nossos pecados e mazelas, sejam de que natureza forem,
inclusive sexual. Não há dilema humano que não caiba na cruz.
O que vi representado naquela cena foi o
sofrimento de um segmento que tem sido vítima de nosso preconceito, nojo
e ódio. O que deveria nos incomodar não é a cena em si, mas aquilo que
ela pretende denunciar. E por mais doloroso que seja admitir, temos
engrossado o coro de seus algozes. Nossos discursos inflamados,
travestidos de piedade cristã, só fazem fomentar ainda mais a
intolerância e o desamor.
O que para alguns pareceu um insulto, para
mim soou como um pedido de socorro. Se a intenção era apenas provocar,
eles conseguiram. Provocaram o que já estava latente em nós, nosso ódio
inconfessável ou nossa compaixão.
Sobre a cabeça do ativista crucificado uma
placa que dizia "Basta de homofobia". Se isso não for um pedido de
socorro, não sei o que é.
Próximo dali, um grupo de cristãos
conscientes exibiam uma faixa que dizia "Jesus cura a homofobia". Nem
tudo está perdido. No meio desta loucura que se instalou em nossos
arraiais, ainda restam alguns oásis de lucidez e misericórdia. Pena que
seja uma minoria. E tomara que se torne uma minoria bem barulhenta.
A maioria está tão obcecada com a ideia de curá-los daquilo que reprovam como conduta, que não percebe o quão doente está.
Obviamente que políticos evangélicos que
têm sido eleitos em cima desta guerra idiota vão aproveitar ao máximo o
episódio para se auto-promover. Quanto mais animosidade entre cristãos e
gays, melhor para eles. Só não vê quem não quer.
E Jesus, será que Se ofendeu? Ora, se Ele
foi capaz de rogar perdão por aqueles que o crucificavam pra valer,
duvido muito que não tenha relevado o que não passou de uma
representação artística. Não creio num Jesus ranzinza, insensível e
incapaz de compreender nossas idiossincrasias e incongruências. Creio
que do alto céu, Ele olhou com misericórdia aquelas milhões de pessoas
que desfilavam na Avenida Paulista como ovelhas que não têm pastor.
Quem sabe encontrou mais sinceridade em
cima daquele trio-elétrico do que em cima de outros que desfilaram dois
dias antes. Assim como encontrou mais fé num centurião romano idólatra
do que nos religiosos escrupulosos que o seguiam. Imagino o quão
ofendidos ficaram ao ouvirem dos lábios de Jesus: Nunca encontrei
tamanha fé, nem mesmo em Israel. Em nosso caso, talvez o que sobre de fé
esteja faltando de amor.
Que tal se em vez de ficar colocando lenha
na fogueira de nossa nada santa inquisição, não alimentamos o que ainda
nos restou da chama do amor?
***
P.S. Duas passagens bíblicas têm sido usadas para justificar a revolta de muitos cristãos devido à crucificação encenada na Parada Gay. Uma delas está em Hebreus 10:29: "De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com o qual foi santificado e ultrajar o Espírito da graça? Pois conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo." Reparem que esta advertência é dirigida aos cristãos e não aos de fora. Está se falando de alguém que, uma vez santificado, insiste em profanar o sacrifício de Jesus e ultrajar o Espírito da graça. E sinceramente, é o que mais tenho visto por parte daqueles que destilam ódio em seu discurso pseudo-piedoso. Quem ultraja mais o "Espírito da Graça" senão aquele que se atreve a delimitar o perímetro de Sua atuação? Quem profana mais o sangue da aliança se não os que fazem do povo de Deus um meio de ganhar dinheiro e votos? A outra passagem está em Gálatas 6:7: "Não vos enganeis. De Deus não se zomba. Tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Basta uma conferida no contexto para verificar que Paulo está advertindo os que trocaram a graça pela lei, a misericórdia pelo juízo e que estavam justificando a si mesmos por suas obras. Ninguém tem zombado mais de Deus do que os cristãos. E não só isso: por nossa causa o caminho da verdade tem sido blasfemado pelos de fora (2 Pe.2:2). Eles têm como justo álibi uma suposta ignorância. Porém, nós não temos o direito de nos estribar em nossa nesciência.
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P.S. Duas passagens bíblicas têm sido usadas para justificar a revolta de muitos cristãos devido à crucificação encenada na Parada Gay. Uma delas está em Hebreus 10:29: "De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com o qual foi santificado e ultrajar o Espírito da graça? Pois conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo." Reparem que esta advertência é dirigida aos cristãos e não aos de fora. Está se falando de alguém que, uma vez santificado, insiste em profanar o sacrifício de Jesus e ultrajar o Espírito da graça. E sinceramente, é o que mais tenho visto por parte daqueles que destilam ódio em seu discurso pseudo-piedoso. Quem ultraja mais o "Espírito da Graça" senão aquele que se atreve a delimitar o perímetro de Sua atuação? Quem profana mais o sangue da aliança se não os que fazem do povo de Deus um meio de ganhar dinheiro e votos? A outra passagem está em Gálatas 6:7: "Não vos enganeis. De Deus não se zomba. Tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Basta uma conferida no contexto para verificar que Paulo está advertindo os que trocaram a graça pela lei, a misericórdia pelo juízo e que estavam justificando a si mesmos por suas obras. Ninguém tem zombado mais de Deus do que os cristãos. E não só isso: por nossa causa o caminho da verdade tem sido blasfemado pelos de fora (2 Pe.2:2). Eles têm como justo álibi uma suposta ignorância. Porém, nós não temos o direito de nos estribar em nossa nesciência.
Agora, cá entre nós... É
impressão minha ou os gays se apropriaram "indevidamente" de uma
mensagem que tem sido desprezada pelos cristãos? Ou alguém ouviu alguma
menção à cruz de Cristo durante a Marcha pra Jesus?
A
cruz segue sendo um escândalo. Talvez por isso já não é pregada como
antes. Ela expõe as entranhas de nossa presunção, de nosso preconceito,
de nossa vaidade, enquanto manifesta a glória de Sua escandalosa graça.A propósito, não me sinto na obrigação de perdoar o que não considerei ofensa. E se este fosse o caso, meu perdão não se basearia no fato de "não saberem o que fazem". Pelo que tenho visto até aqui, eles sabem mais o que fazem do que muitos crentes sabem o que dizem. Mas se você, cristão, se sentiu ofendido, só lhe resta perdoar ou refletir sobre seu posicionamento.
Só me resta agradecer à comunidade LGBT por nos fazer lembrar que ainda há uma cruz.
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(*) Texto extraído blog do autor na presente data e postado na origem dia 08/06/2015
Paz seja com todos!!!
ResponderExcluirSem dúvida d q é o óbvio...mas quem, sem ter sido crucificado, pode concordar?!
Senhor, tem misericória d nós .... pecadores!!!
Q a cruz, como instrumento d operação, opere em cada um dos Seus eleitos!!!
Meditemos nisto!!!