Efeito colateral dos dogmas



Donizete Vieira



Até o século XIX a ideia de que as doutrinas cristãs haviam passado por processos de desenvolvimento soava como heresia em ouvidos ortodoxos. Porém esse pensamento veio a ser referência na altíssima atividade teológica daquele século.

Alguns defendiam a tese de que a evolução teológica não era nada mais do que um desenvolvimento previsto e que já estava implícito na mensagem original.

Entretanto, Adolph Von Harnack e outros teólogos de seu tempo, viam na história dos dogmas da igreja o abandono progressivo da mensagem original de Jesus, que não era acerca de Jesus. Segundo Harnack, o que Jesus pregou foi a paternidade de Deus, a fraternidade universal, o valor infinito da alma humana e o mandamento do amor. Foi depois, por um processo que levou anos, que Jesus veio a ser o centro e a essência da sua mensagem foi perdida. Os dogmas estabelecidos não alinharam Jesus à sua mensagem.

Outro crítico da dogmatização foi Albrecht Ritschl. Esse influente teólogo do século XIX afirmou que a religião, mais particularmente o cristianismo, não é uma questão de especulação metafísica, nem de sentimento subjetivo, mas de vida prática.

Segundo ele o pensamento transcendente a nossa esfera gera um comportamento demasiadamente frio, e não obriga a quem segue esse caminho a um compromisso com o outro. Individualmente, todo esforço pessoal visa o enlevo espiritual próprio. No aspecto coletivo, primariamente preocupa-se com a alma da pessoa. Toda a atenção é voltada para essa dimensão. Esse misticismo típico em ambientes da igreja, cria pessoas individualistas com sua atenção voltada para a subjetividade em detrimento à atenção às carências humanas reais e imediatas.

Não há como discordar desses dois pesos pesados da teologia. Pois o centro dos ensinamentos de Jesus foi o Reino de Deus e a ética do Reino, que é a organização da humanidade mediante a ações inspiradas no amor.


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