Por Rubens Alves
Lembro-me, com nítida precisão, do momento em que
tive a percepção intelectual que libertou a minha razão para pensar. Eu estava
no seminário. Repentinamente, com enorme espanto, percebi que todas aquelas
palavras que outros haviam escrito no meu corpo, não haviam caído do céu. Se
não haviam caído do céu, elas não tinham o direito de estar onde estavam. Eram
demônios invasores. Abriram-se-me os olhos e percebi que essa monumental
arquitetura de palavras teológicas que se chama teologia cristã se constrói,
toda, em torno da ideia do inferno. Eliminado o inferno, todos os parafusos
lógicos se soltariam, e o grande edifício ruiria.
A teologia cristã ortodoxa, católica e
protestante, excetuada a dos místicos e hereges, é uma descrição dos
complicados mecanismos inventados por Deus para salvar alguns do inferno, sendo
o mais extraordinário desses mecanismos o ato de um Pai implacável que, incapaz
de simplesmente perdoar gratuitamente (como todo pai humano que ama sabe
fazer), mata o seu próprio Filho na cruz para satisfazer o equilíbrio de sua
contabilidade cósmica. É claro que quem imaginou isso nunca foi pai. Na ordem
do amor, são sempre os pais que morrem para que o filho viva.
Hoje, as ideias centrais da teologia cristã em que
acreditei nada significam para mim: são cascas de cigarra, vazias. Não fazem
sentido. Não as entendo. Não as amo. Não posso amar um Pai que mata o Filho
para satisfazer sua justiça. Quem pode? Quem acredita? Mas o curioso é que
continuo ligado a essa tradição. Há algo no cristianismo que é parte do meu
corpo. Sei que não são as ideias. Que ficou, então?
Foi numa Sexta-Feira da Paixão que compreendi. Uma
rádio FM(Amparo) estava transmitindo, o dia inteiro, músicas da tradição
religiosa cristã. E eu fiquei lá, assentado, só ouvindo. De repente, uma missa
de Bach, e a beleza era tão grande que fiquei possuído e chorei de felicidade:
“A beleza enche os olhos d’água” (Adália Prado). Percebi que aquela beleza era
parte de mim. Não poderia jamais ser arrancada do meu corpo. Durante séculos,
os teólogos, seres cerebrais, haviam se dedicado a transformar a beleza em
discurso racional. A beleza não lhes bastava. Queriam certezas, queriam a
verdade. Mas, os artistas, seres coração, sabem que a mais alta forma de
verdade é a beleza. Agora, sem a menor vergonha, digo: “Sou cristão porque amo
a beleza que mora nessa tradição. As ideias? Chiados de estática, ao fundo...”
Assim, proclamo o único dogma da minha teologia cristã erótico-herética: “Fora
da beleza não há salvação...”
Reproduzo um raio de inspiração divina da confrade Mariani, em um comentário à postagem no "Ensaios & Prosas" sob o título: Por Que esse “Cale-se” (ou cálice)?!, que tem muito a ver com este ensaio de Rubens Alves
ResponderExcluir“Enquanto o filho clamava para que o Pai não o abandonasse, a Mãe estava aos seus pés” (Mariani Lima)
QUE
LINDOOOOOOO!!!!
Foi exatamente por está aos seus pés, que ela num arrebatamento profético, proclamou:Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,e o meu espírito se alegra em Deus meu SALVADOR; Lucas 1:46-47
ExcluirSeria demais para um pai poderoso
ResponderExcluirTer que se humilhar na pele de um filho escarnecido.
Será por isso que Te escondes de mim?
Nunca me senti tão fraco, tão esvaziado e deprimido.
De Ti não esperava o agora.
E como uma criança frágil e desamparada,
Temendo que a luz se apague,
Caminho sem nunca chegar ao ponto de onde parti.
Meus projetos e sonhos como bolhas, explodiram no ar.
Por que fui abandonado? Por quê? (Levi)
a pergunta que ecoa..
ExcluirPalavra de Levi na boca de Jesus que ao morrer disse: Pai! Em tuas mãos entrego o meu Espírito...
ExcluirE eu fico imaginando e perguntando aos meus botões:
ResponderExcluirQuantas vezes o poeta e psicanalista Rubens Alves deve ter ouvido esse surrado bordão no Edifício em Ruínas movido a medo do inferno?:
“O homem natural não entende das coisas do Espírito” .
(rsrsrs)
Ele tem razão quando diz que: "Eliminado o inferno, todos os parafusos lógicos se soltariam, e o grande edifício ruiria"
ResponderExcluirRealmente este tem sido o grande problema que enfrento em insistir numa composição com grupos que continuam proselitando adeptos através dos recursos da coação e do medo. Quando reinventamos a religião, já não se pode mais deitar vinho novo em odres velhos...
Compreendo quando ele diz que "fora da beleza não há salvação". Como um pregador da graça, creio que a beleza, ou a contemplação desta, insere-se num contexto maior. Quanto ao sacrifício de Jesus Cristo, creio que se trata de uma poderosa mensagem salvífica para a humanidade embora muitos continuam fazendo com que sua cruz ainda sirva de instrumento opressivo ao invés de libertador. É que a bondade do Criador bendito vai muito mais além das formas intelectuais que construímos para tão importante substantivo.
bem-vindo de volta, Rodrigo, e aí, vai voltar a publicar por aqui?
ExcluirGrande Rodrigão, você deveria está conosco sempre.
ExcluirO problema é que nem todos podem contemplar a beleza da cruz num mundo de tanta violência...
Guiomar Barba,
ExcluirO masoquista que enxerga beleza na cruz que é o símbolo da morte inglória, vê beleza na guilhotina, na forca, na cadeira elétrica e até mesmo na fogueira da inquisição. Talvêz seja porisso que alguns algozes lambem a faca contendo o sangue da vítima. "Nem todos podem contemplar a beleza da corda que enforca, o brilho da faca nem a luz do disparo".
Caros amigos,
ExcluirBem que eu gostaria de postar e de estar mais presente aqui na confraria acompanhando os debates. Como andei me comunicando com o Eduardo pelo Face, ainda estou sem internet em casa. Até estou com um processo contra a Oi Fixo, com liminar a meu favor, mas que ainda não foi cumprida pela empresa. Logo, tenho acessado a rede mais na lan house e pelo celular da minha mulher, como compartilhei hoje em meu blogue:
A experiência de acessar a internet pelo celular
http://doutorrodrigoluz.blogspot.com.br/2013/04/a-experiencia-de-acessar-internet-pelo.html
Espero que, quando tudo estiver ok, poderei tanto postar como também dar uma melhor atenção ao que participativamente enriquecem os textos publicados com seus comentários.
Um feliz feriado a todos!
Pela razão, eu entendo que a existência,que a Natureza, que seres inteligentes e conscientes como nós,não poderia ser resultado de um acaso cego e burro;
ResponderExcluirpor esta mesma razão, eu entendo que a morte vicária de Jesus para livrar os seres humanos das garras de um deus irado e do inferno, não tem razão alguma.
"Se não haviam caído do céu, elas não tinham o direito de estar onde estavam. Eram demônios invasores. Abriram-se-me os olhos e percebi que essa monumental arquitetura de palavras teológicas que se chama teologia cristã se constrói, toda, em torno da ideia do inferno. Eliminado o inferno, todos os parafusos lógicos se soltariam, e o grande edifício ruiria".
ResponderExcluirO diabo vem como anjo de luz e os orgulhosos do seu intelecto caem na esparrela que aparece como um esplendor de uma falsa luz.
Nobres Amigos Confrades,
ResponderExcluirEstou sem tempo para escrever e publicar, e espero sanar a dívida até este final de semana... Mas não consigo deixar passar batido as postagens aqui da Confraria, ainda mais se tratando de minhas opiniões heréticas sobre o infalível e indestrutível edificio rsrsrsrsrs
Os principais dogmas na fundamentação deste edificio, ao meu ver parecem ser o "céu e o inferno", uma baita alegoria em relação a estados da psique. Foi assim que fui desenvolvendo minhas ideias em relação aos dogmas da igreja. Se os que parecem ser os principais não são sólidos, imaginem os demais.
Ainda sobre céu e inferno, no Grupo postei o comentário abaixo, quando discorríamos sobre o tema:
Um estado de alma. Isso implica no questionamento de talvez não ter nada haver com um lugar ou local, e sim com nós mesmos internamente. Estados da psique em vida, em terra, tipo uma historinha que é mais ou menos assim:
"Há muito tempo, havia um rei poderoso que desfrutava uma vida protegida e prazerosa dentro das paredes de seu castelo. Um dia, ele decidiu se aventurar por seu reino para ver o que poderia experimentar e aprender. Logo ele se deparou com um monge e, num tom usual que impunha obediência, ele disse :
- Monge, ensina-me sobre o céu e o inferno!
O monge olhou para o poderoso rei e, numa voz irritada, disse:
- Não posso ensinar-lhe sobre o céu e o inferno. Você é limitado demais. Você não passa de um preguiçoso. Os ensinamentos que eu tenho são para pessoas puras e santas. Você não chega nem perto disso. Saia do meu caminho!
O rei ficou furioso. Ele estava atordoado com a ousadia do monge por falar-lhe daquela maneira. Num impulso de raiva, ele puxou sua espada para cortar a cabeça do monge.
- Isso é o inferno, disse o monge confiantemente.
O rei ficou impressionado. Ele percebeu que aquele monge corajoso havia arriscado sua vida para ensinar-lhe esta lição sobre o inferno. Numa profunda gratidão e humildade, o rei colocou sua espada de lado e se curvou em reverência ao monge.
- E isso é o céu - disse o monge suavemente."
Ficam as perguntas:
Além do livro "sagrado", o que mais possuímos em relação a este dogmas que nos de total garantia de que seja um local e não um "estado da psique"??? Se for um estado da psique, o fator "localidade", não faz sentido algum. E assim, temos um edificio em ruínas.
Já que o assunto aqui é “Céu e Inferno”, o que vocês acham do trecho abaixo escrito pelo poeta e filósofo francês Paul-Henri Thiry, o Barão d'Holbach (1723 – 1789):
ResponderExcluir“Orgulhosos pela proteção de Javé, os hebreus marcharam para a vitória; o CÉU lhes autorizou a artimanha e a crueldade. A religião, de par com a avidez, abafou neles os gritos da natureza e, sob o comando de seus chefes desumanos, destruíram as nações cananéias com uma barbárie que revolta qualquer homem cuja razão não foi aniquilada pela superstição. Seu furor ditado pelo próprio Céu, não poupou as crianças de peito, nem os velhos debilitados, nem as mulheres grávidas nas cidades onde esses monstros levaram suas armas vitoriosas. Pelas ordens de Deus ou de seus profetas, a boa fé foi violada, a justiça ultrajada e a crueldade exercitada”.
Tenho a impressão de que o Inferno Cristão tem tudo a ver com a VINGANÇA dos que morreram por “amor a Cristo”.
Olha aí, o que o apóstolo João em seu íntimo (ou inconsciente) desejava para os seus adversários:
“As almas dos que morreram por amor a Cristo clamavam com grande voz: até quando ó verdadeiro e santo Soberano, não vingarás o nosso sangue dos que habitam sobre a terra”. (Apoc. 6:10)
AFFF....
"O problema é que nem todos podem contemplar a beleza da cruz num mundo de tanta violência..." (Guiomar)
ResponderExcluirnão é de se espantar que num mundo com tanta violência,se precise de um ato atroz de violência (a tortura e a crucificação de Jesus) para encontrar uma duvidosa paz? O cristianismo cultua como a sua redenção a morte mais cruel, mais violenta e mais deprimente que já inventaram. O que podemos pensar disso?
O cristão cultua como sua redenção o sacrifício do calvário, a morte de um homem que tomou sobre si as nossas culpas e que muitos de nós rejeitamos porque não estamos capacitados a entender tão grande amor. Este amor tem sido analisado, dissecado, desprezado por todos quantos querem explicar a mente insondável de Deus.
ExcluirPor outro lado, de onde vem a crença inabalável num céu de gozo e de um inferno de tormentos por parte dos cristãos?. vem exatamente do versículo que o LEVI destacou de apocalipse: vingança. Ou alguns poderiam dizer, "justiça".
ResponderExcluirSe o inferno não existir, homens cruéis como Hitler não terão a paga devida pelos seus crimes, já que a justiça terrena é falha. ao mesmo tempo, se o céu não existe, homens bons e justos(e cristãos!) como Luther King não terão suas virtudes devidamente recompensadas na eternidade.
Mas de fato, a única coisa que pode mandar alguém para o inferno ou para o céu, independente de ter sido bom ou mau, é a aceitação de Jesus como salvador e o arrependimento dos seus pecados; aqui o edifício fica ainda mais rachado, pois pessoas boas e honestas, apenas com seus erros morais comuns a todos nós (cristãos ou não) irão para lá pagar eternamente apenas pela sua não aceitação do salvador cristão.
tá na hora da dogmática cristã revê seus conceitos teológicos quanto a céu e inferno, pois o edifício está com rachaduras imensas.
Edu, o lindo da história do calvário é que mesmo homens cruéis podem ser perdoados mediante arrependimento, e isto é mais do que lógico.
ExcluirDepende do que você entende por aceitar Jesus. Se você acredita que é levantar a mão dizendo eu O aceito... O edifício realmente está rachadíssimo, mas se você entende o cristão como uma pessoa que anda no mesmo caminho do Mestre Jesus Cristo, você poderá compreender que não há nada de virtude em se cumprir os ensinamentos de Jesus e sim um dever. É ai que se entende quando Ele diz: O que é que eu peço de ti ó homem, se não que andes nos meus caminhos e cumpra o que é certo?
Pois é Edu,
ResponderExcluirO edifício foi edificado no pântano e as rachaduras são conseqüências da qualidade de seu material de construção. É a única mentira que tem pernas longas. Imagine uma história cristã em que um ateu é violentamente assassinado por um facínora e no extertor de sua morte não tenha tempo de se arrepender e aceitar Jesus como salvador de sua inocência. Já o hediondo facínora é julgado e condenado por este e outros crimes mas no cárcere aceita Jesus com seu salvador e se torna "pastor de ovelhas".No dia do juízo lá estará o primeiro à esquerda e o segundo à direita do supremo juiz mestre da justiça cristã. Este edifício merece ser implodido.
Mirandinha, como você sabe se ele não teve esta oportunidade? Quem conhece o relacionamento do espírito com o seu criador no caminho para a eternidade? O Espírito Santo não dorme, o amor de Deus não despede o homem sem oportunidades.
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